Boletim Informativo Enconttra vol. 1: Ataque ao projeto “Nova Cartografia Social dos povos tradicionais da Volta Grande do Xingu”

A Universidade Pública está sendo atacada continuamente por alguns meios de comunicação, que espectacularizam ações da Polícia Federal e do Judiciário. Essas ações são utilizadapara mostrar que a única solução seria privatizar a Universidade Pública. 
São diversos casos no último ano, como da UFRGS e a “Operação PhD”, da UFPR e a “operação Research”, da UFSC e a “Operação Ouvidos Moucos” e recentemente da “operação esperança equilibrista” na UFMG. Não questionamos a necessidade de fiscalizar os recursos públicos e de divulgar as ações que nela se fazem, mas denunciamos o uso parcial e interessado desses “espectáculos” midiáticos que têm trazido o linchamento público de funcionários, profesores e estudantes.  
No entanto, nesse momento, queremos denunciar os últimos ataques à pesquisa e à extensão universitárias. Situações como a do Instituto Federal Catarinense em Abelardo Luz onde se instaurou um processo judicial questionando a participação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra nas atividades da instituição ou a sindicância contra o professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-Universidade de São Paulo) que promoveu uma jornada de reflexão sobre a reforma agrária na instituição.
Não parou por ai. A última notícia estarrecedora vem da Amazônia, no  dia 29 de novembro ocorria na Universidade Federal do Pará (UFPA), campus de Belém, o seminário “Veias Abertas da Volta Grande do Xingu”. Nele se apresentariam os resultados do estudo com as comunidades ribeirinhas (indígenas, pescadores, extrativistas…) sobre os impactos da mineradora canadense Belo Sun, dona do projeto de mineração Volta Grande que pretende extrair ouro no rio Xingu, nas proximidades da barragem de Belo Monte em uma área de 1.400 has. O seminário não pôde acontecer porque o prefeito do município Senador José Porfírio(Sul do Pará) Dirceu Biancardi (PSDB), junto com um grupo organizado de cerca de 40 pessoas, trancou professores e alunos convidados dentro do auditório da Universidade Federal do Pará em que acontecia o evento, impedindo o debate e transformando o lugar em palanque para defender a mineradora. Em atitude totalmente autoritária, o prefeito sentou-se à mesa gritando e intimidando a todos os presentes, pesquisadores, populações dos locais afetados e convidados. Ainda a situação foi mais grave por todos eles serem impedidos de sair do auditório enquanto ele discrusava. A professora Rosa Azevedo, coordenadora do seminário, depois do sucedido, disse tratar-se de “um ato contra a instituição e suas regras (…) o tumulto criado impediu que a programação fosse realizada. Naquele mesmo espaço, ocorreu uma série de ameaças, havia um tom elevado por parte do prefeito e de seus acompanhantes. Isso realmente nos criou um constrangimento muito grande, uma coerção”. 
Um episódio de violência explícita que está sendo investigado pelo Ministério Público Federal, mas que mostra com clareza os ataques a um ação da universidade que, através da construção de uma cartografia social que levanta os conflitos que as comunidades vizinhas sofreram com Belo Monte e que devem multiplicar-se com o projeto de mineração de ouro na Volta Grande do Xingu. Este projeto, está marcado pelas denúncias de abuso, ineficiência governamental e batalhas judiciais. No local afectado pela mineração há cinco projetos de reforma agrária instalados, populações indígenas da etnia juruna, além de extrativistas e pescadores que moram nas margens do rio e serão contaminados pelo cianeto, usado no processamento do ouro, bem como dos materiais “quimicamente ativos” que serão alocados em duas pilhas de resíduos, às margens do Xingu.
Denunciamos os ataques a projetos, como o o da cartografia social, dedicados a dialogar com aqueles a quem se nega sistematicamente o diálogo e a existência. Uma universidade com a cara da sociedade brasileira, negra, indígena, branca, das mulheres, dos jovens… toda miscigenada resulta perigosa para muita gente. Queremos denunciar contundentemente esses tipos de práticas que pretendem censurar a construção horizontal de saberes, o pensamento e ação críticas de uma sociedade que só aumenta suas diferenças e seus desequilíbrios. 
Hoje são uns poucos projetos, mas nesse contexto de racismo social e dos saberes, nesse momento em que quaquer prática repressora parece legítima para manter privilégios dos que tem muitos e censurar e recortar os direitos de quem tem poucos e são sistematicamente atropelados, essa lista de abusos vai se ampliar. Juntemos esforços para que isso não aconteça…